Elizandra Souza é Poeta, Jornalista,
Editora da Agenda Cultural da Periferia na Ação Educativa, locutora da Rádio
Comunitária Heliópolis FM. Co-organizadora da Antologia Pretextos de Mulheres
Negras com Carmen Faustino e textos de 20 poetisas negras. Autora do livro de
poesias Águas da Cabaça, totalmente produzido por jovens mulheres negras com
ilustrações de Salamanda Gonçalves (BA) e Renata Felinto (SP), lançado em
outubro de 2012. Co-autora do livro de poesias Punga com Akins Kintê (Edições
Toró, 2007) e participante em antologias
literárias como:Cadernos Negros, Negrafias, entre outras. Colaboradora da
Revista O Menelick 2º Ato -MandelaCrew –Comunicação e Fotografia. Idealizadora
do evento Mjiba em Ação – Comemoração ao Dia da Mulher Negra (25 de julho).
Editora do Fanzine Mjiba (2001-2005).
A escritora nos concedeu a
seguinte entrevista:
ECL- A jornalista Mel Adún faz a seguinte afirmação no prefácio do seu
último livro: “A poesia de Elizandra Souza dança ao ritmo do hip-hop, dialoga
com a juventude negra e desobedece ao racismo, quando se faz voz de si mesma e
das suas. Trazendo a tona nossas dores, alegrias e anseios, do micro ao macro,
da perifa de São Paulo para o mundo; sem perder uma identidade preta, feminina
e uterina”. Qual é o papel dos poetas na sociedade atual?
ELIZANDRA SOUZA- O papel do poeta é o mesmo de todos os cidadãos, mas a
arte consegue sensibilizar e tratar de temáticas sejam elas prazerosas ou de
mal-estar, temáticas que a sociedade ou tenta esconder, que é o caso do racismo
e da invisibilidade da população negra, no meu caso, a minha poesia fala
constantemente da mulher negra, que esta na base da pirâmide social. Mulheres
negras que carregam na pele o racismo e a desigualdade social e sustentam toda
a sociedade. As minhas poesias trazem essa ancestralidade para que as mulheres
negras possam se ver refletidas nos espelhos e com sua autoestima conseguir
combater o racismo, se perceberem belas e protagonistas. O plano é audacioso,
mas é um passo a passo diariamente.
ECL- Ao longo do livro Águas
da Cabaça o leitor encontra vários excertos de textos de algumas
escritoras, tais como: J. Nozipo Maraire, Maria Tereza, Zora Neale Hurston,
entre outras. Como surgiu a ideia de homenageá-las?
ELIZANDRA SOUZA- Na verdade não é nem uma intenção de homenagem, mas uma
forma de reverenciar autoras negras que são minhas leituras bases para me
perceber como mulher negra, pois o racismo é tão escroto, que não nos vemos
bonitas e inteligentes. E essas leituras me alimentam para protagonizar a minha
arte e foi uma forma de apresenta-las para os leitores, pois temos dificuldades
de encontrar referências bibliográficas dessas escritoras, outro dia ministrei
um bate papo com professores e na roda de apresentação solicitei que falassem
seus nomes e dissessem o nome de um escritor ou escritora negra, foi um
silêncio constrangedor, até que alguém já na metade dos participantes, lembrou de
Machado de Assis, aí foi outro constrangimento, pois a maioria nem sabia que o
nosso principal escritor brasileiro é negro...Imagine se eu perguntasse só
escritoras negras, lembrando que estou falando de professores que são as nossas
fontes de conhecimento. Foi por essa provocação que citei trechos de livros e
poesias de mulheres negras de várias partes do Brasil e do mundo como:
Moçambique e Estados Unidos.
ECL- A poesia Gameleira
foi escrita em homenagem ao escritor Luís Gama. Sabe-se que o autor com a
publicação de Primeiras Trovas Burlescas
de Getulino ridicularizou a aristocracia e os poderosos de sua época. Na
sua concepção, qual foi a maior contribuição dada pelo escritor baiano à nossa
sociedade?
ELIZANDRA SOUZA- Luís Gama é uma referência, uma personalidade negra que
traz várias simbologias: poeta, advogado abolicionista, filho de Luiza Mahin,
uma das lideranças mulheres da Revolta dos Malês. Ele deveria ser mais
conhecido pela nossa sociedade, mas poucas pessoas conhecem. Ele é muito
importante como outros que são inviabilizados pelo racismo.
ECL- O sarau Cooperifa é
uma das principais atividades de manifestação da cultura popular da cidade de
São Paulo. Como se estrutura esses encontros? Todos podem participar?
ELIZANDRA SOUZA- O Sarau
da Cooperifa completou nesse mês de outubro, 12 anos de atividades,que acontecem todas as quartas-feiras no Bar do Zé
Batidão na Zona de Sul da Periferia de São Paulo. Esporadicamente realiza-se
outras atividades como Chuva de Livros, Sarau nas Escolas e Bibliotecas, Poesia
no Ar e Mostra Cultural da Cooperifa. O sarau tem microfone aberto e todas as
pessoas são bem-vindas.
ECL- Quais são os
escritores preferidos da (leitora) Elizandra Souza?
ELIZANDRA SOUZA- As
cinco autoras citadas em Águas da Cabaça:
- Conceição Evaristo
- Pauline Chiziane
- Maria Tereza
- Zora N. Hurston
- J. Nozipo Maraire
Demais:
- Elisa Lucinda
- Cristiane Sobral
- Carolina Maria de
Jesus
- Mel Adún
- Cadernos Negros
- Cuti
- Nei Lopes
- José Carlos Limeira
- Fábio Mandingo
- Não negros (as) :
- Eduardo Galeano
-Clarissa Estes Pinkola
-Mario Quintana
-Manoel de Barros
-Carlos Drummond de Andrade
-Guimarães Rosa
-Cora Coralina
-Clarisse Lispector
Aproveitamos para convidá-los para o lançamento da Antologia poética: Pretextos de Mulheres Negras organizada por Carmen Faustino e Elizandra Souza.
Abraços,
Juliana Gobbe
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