quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Manoel e a arte de transver o mundo.



A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.

Manoel de Barros


Abraços,
Juliana Gobbe

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sarau Vila Fundão

 O sarau Vila Fundão é um movimento da cultura popular que inclui: música, poesia, teatro, literatura, dança, artes plásticas, entre outras coisas. Ótima opção contra a cultura de massa brasileira que além de mercadológica é altamente prejudicial ao intelecto de qualquer um.
No dia 15 de dezembro acontecerá o último sarau do ano.

Local: Rua João Batista Reimão, 146 - Largo do Campo Limpo
Horário: 14:00




Abraços,


Juliana Gobbe

domingo, 4 de dezembro de 2011

Bem-vindo-ao-spa-ghetti



É uma alegria e uma honra recebê-lo em nosso Spa. Para que sua estada seja a mais agradável possível, pedimos seguir à risca as seguintes recomendações:
É terminantemente proibido o contato com alimentos pouco calóricos ou com caloria zero. Uma mudança radical de vida, que é afinal o que você busca, exige força de vontade. Em todas as circunstâncias, nosso lema é: EVITE A PRIMEIRA GOTA DE ADOÇANTE. Por minúscula que seja, é o suficiente para acarretar uma severa recaída e botar a perder todo o trabalho de nossos nutricionistas, psicólogos, médicos e personal trainners.
Na ingestão acidental de substâncias light ou diet, deve-se induzir o vômito ou proceder a uma lavagem estomacal, para desintoxicação.
Nossa tradicional sopa de toucinho com manteiga deverá ser ingerida preferencialmente em jejum, visando o máximo efeito terapêutico.
Bolsas, valises e malas serão revistadas diariamente pelos monitores. Balas e demais guloseimas sem açúcar, se encontradas, serão apreendidas e enviadas à família do hóspede. Em caso de reincidência, o próprio hóspede será remetido à sua cidade de origem, juntamente com seus bagulhos de sacarina.
Há alguns meses testemunhamos em nossas dependências um episódio constrangedor, no qual um interno foi flagrado com um pé de alface na cueca e dois maços de chicória escondidos nas axilas. Nosso detector de verduras e legumes, instalado na recepção, soará imediatamente se infrações semelhantes vierem a ocorrer.
Se, por recomendação médica, você necessitar de alimentação mais leve, sirva-se do nosso bufê de frutas: maçã do amor, banana caramelada, creme de abacate, abacaxi em calda e compota de goiaba.
A freqüência às piscinas só será permitida com trajes de banha ou camisetas de algodão doce.
O campeonato de Tiro ao Magro acontece diariamente, das 9 às 18h.
O ócio é o melhor amigo da genialidade e do impulso transformador. Exemplos disso são Dorival Caymmi, que fez tudo o que fez praticamente sem fazer nada, e Isaac Newton, que descobriu a lei da gravidade descansando embaixo de uma árvore. Nosso Spa é um monumento à inatividade restauradora. A única coisa que se mexe aqui são os ovos mexidos, servidos com fatias de cupim no café da manhã. Assim, lembre-se: ao invés de correr, ande. Ao invés de andar, sente-se. Ao invés de sentar, deite-se. Ao invés de deitar-se, peça que alguém coloque você na cama.
Para seu maior conforto, nosso projeto arquitetônico contemplou um total de 16 rampas em declive, permitindo que você chegue rolando aos diversos pavimentos. O retorno aos andares superiores poderá ser feito por teleférico ou guindaste.
Ao assistir TV, evite os programas humorísticos. Estudos recentes demonstram que o riso, ainda que contido, promove algum gasto calórico.
Como parte do apoio psicológico ao tratamento, sugerimos a leitura dos livros “Só é magro quem quer”, “À procura do quilo perdido”, “GG – Manual do Gordo Gostoso” e “Boi no Rolete – coma sem culpa”, todos à venda na portaria central.
Não deixe de visitar nossa sala de massagem, onde seu ego poderá ser massageado com as seguintes afirmações, repetidas em rodízio:
1 – Nossa, que gordo lindo!
2 – E aí, fofinha? Na minha casa ou na sua?
3 – Uau, onde é que vai com tudo isso?
4 – Essa é a nora que mamãe pediu a Deus.
5 – Sou gordo, mas quem não é? Saco vazio não para em pé.
Por último, uma consideração de natureza filosófica: magros são perdedores, gordos são vitoriosos.
O magro é alguém que não conseguiu ganhar peso, ou que perdeu, o que de uma forma ou de outra o coloca como um fracassado – justamente por não ter ganho ou por ter perdido.
Você está aqui para ganhar peso. Consequentemente, isso fará de você um vencedor. Parabéns!!!


Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
Blogs:
www.consoantesreticentes.blogspot.com (contos e crônicas)
www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
Email: msguassabia@yahoo.com.br

Ave Marcelo cheio de graça!

Abraços,


Juliana Gobbe

domingo, 27 de novembro de 2011

Eventos literários

Muito tem se discutido sobre os rumos da literatura na sociedade atual, amortizada pelos desígnios impostos pelo regime capitalista. Por outro lado, encontramos pessoas aqui e ali dispostas a enriquecer esse debate com contribuições notáveis para a disseminação da leitura entre nossas crianças e adolescentes. Nos últimos dias nossa cidade se movimentou em direção aos livros e seu desdobramento mais ilustre: A leitura.




Fórum de Leitura 2.011 realizado na E E Professor Carlos José Ribeiro no dia 24/11/11.









Sarau realizado  no Colégio Paulistano no dia 25/11/2.011



Praça de leitura ( Projeto da Secretaria de Educação de Atibaia SP) realizada na Praça Guanabara no dia 26/11/2.011. O Espaço de Criação Literária participou com duas oficinas ministradas por Anna Dumeli e Idinês Andrade.






Embora com resultados constantemente melancólicos, a minha vocação profunda foi sempre uma: educar. E ainda num outro: A educação é uma causa que abraço com paixão assim como a 
 poesia.
Cecília Meireles. 


Abraços,
Juliana Gobbe

sábado, 19 de novembro de 2011

Faygra Ostrower Ilustradora



 O museu Lasar Segall apresenta ao público brasileiro a exposição: Faygra Ostrower Ilustradora. A artista brasileira foi durante sua vida uma das mais premiadas ilustradoras no Brasil e exterior .


Exposição:
De 13 novembro de 2011 a 19 de fevereiro de 2012.
Museu Lasar Segall (Rua Berta 111, Vila Mariana/SP – Tel 11 5574-7322) 
Entrada franca







Abraços,
Juliana Gobbe

sábado, 12 de novembro de 2011

Editando livros digitais


 Como editar um livro digital? A estação das letras e a Publisch News pretendem responder a essa e outras perguntas com um curso que acontecerá simultaneamente em São Paulo e no Rio de Janeiro nos meses de novembro e dezembro de 2.011. O curso: Editando livros digitais pretende trazer aos interessados um pouco da situação do mercado nacional das mídias digitais e o processo de criação de narrativas para as mesmas.


Realização e Curadoria: Estação das letras e Publisch News.

Duração:19/11 à 10/12

Inscrições: RJ-www.estacaodasletras.com.br
                 SP- Publisch News (11) 3816-12-70
E-mail: curso@publischnews.com.br



Abraços,

Juliana Gobbe

domingo, 6 de novembro de 2011

Foi a brisa ou o luar...

Na última sexta-feira, o escritor Fábio Siqueira do Amaral recebeu amigos e fãs na biblioteca municipal de Atibaia para o lançamento do seu livro "Foi a brisa ou o luar"...
O autor utilizou-se das trovas para encantar seus leitores com sua competência e irreverência.

                                           Fábio Siqueira do Amaral
                                                            escritor

A escritora Myrthes Neusali Spina de Moraes ( presidente da União Brasileira dos Trovadores em Atibaia) esteve presente com sua costumeira simpatia.

                      Os escritores João e José Martino também marcaram presença no lançamento.

Os escritores de Bragança Paulista cumprimentaram o autor : Cláudia L Moraes (Diretora de secretaria da ASES: Associação de escritores de Bragança Paulista), Norberto de Moraes Alves ( Presidente da ASES) e Henriete Effenberger ( diretora de eventos da ASES).

        O escritor Nélson de Souza ganhou uma trova especial do seu amigo.

         O público estava atento para ouvir a declamação de trovas.

Algumas trovas:

"Frei Antero me contou:
-"Nos infernos, santos há"!
Nem sequer pestanejou
afirmando isso de lá"...


"Grande encontro lá no céu!
Chico Alves e Noel Rosa
cara a cara, nenhum véu!
Anjos, samba e pouca prosa!


Que a inspiração esteja sempre presente na vida desse nosso querido amigo!

Abraços,
Juliana Gobbe

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Solano Trindade: A poesia consciencial

O espaço de criação literária fará no próximo sábado mais uma oficina que terá como tema: Solano Trindade: A poesia consciencial. O encontro abordará as questões sociais na obra do poeta pernambucano e a atualidade da temática por ele abordada.

Dia: 05/11/2.011
Local: Biblioteca Municipal de Atibaia
Horário: 10:00hrs
Entrada Franca
Entrega de certificado de participação.


Abraços,
Juliana Gobbe

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Edenilson Tibúrcio

O bibliotecário chefe da biblioteca municipal de Atibaia: Edenilson Tibúrcio concedeu uma entrevista ao nosso blog contando um pouco sobre o seu trabalho.
A biblioteca central de Atibaia está sempre com as portas abertas ao público e aos projetos dos escritores da nossa cidade.


Ala Jovem- Quais são os projetos da Biblioteca Municipal?

 EDENILSON TIBÚRCIO-Projeto: Automação/informatização
Automação é um processo que agiliza e amplia o acesso à informação, facilitando o trabalho administrativo das Bibliotecas, e principalmente a consulta do leitor. Proporciona a interação entre o conhecimento registrado e o usuário.

Projeto: Oficina de Criação Literária
A Biblioteca central incentiva a Oficina de Criação Literária, coordenada por Juliana Gobbe.

Projeto: Teatro na Biblioteca
Para amantes do teatro, oferecemos a oportunidade de apresentarem peças teatrais na Biblioteca do centro.
Em outubro de 2010 foi apresentado a peça teatral “Os Três Porquinhos”. Direção de Fábio Siqueira do Amaral com apoio de Myrthes Neusali Spina de Morais e cenário de Nestor Lampros.
Personagens e elenco:
Contadora de histórias: Myrthes Spina, Juquinha fazendeiro Jean Ribas, Lobo Mau Leonardo Andrade, Bolão Rafael Perini, Bolinha Francisco Eulândio e Bolão Edenilson Tibúrcio Biblitecário.
A contadora de história resolve relembrar a história dos Três Porquinhos, e inclui um novo personagem: o Juquinha fazendeiro, que torna-se o herói ao salvar os três fujões (bolão, bolinha e bolota) das garras do terrível lobo mau, que depois, arrependido de suas maldades e por não ter amigos, resolve mudar sua conduta.
A peça incentiva a amizade, o bom comportamento, a obediência e o respeito para os bons conselhos. 



Ala Jovem-Qual é a frequência de público na biblioteca?  

Estatística anual de 2010

 EDENILSON TIBÚRCIO- Frequência de usuários da Ala Adulta = 40.619
Frequência de usuários da Ala Infanto-juvenil = 11.636

ALA Jovem-Quais são os lançamentos do acervo?

EDENILSON TIBÚRCIO-Livros que foram incorporados no acervo em abril de 2011. 



Ala Jovem-Com que tipo de literatura o público se identifica mais?

EDENILSON TIBÚRCIO-Romance no geral, suspense, aventura, biografia, policial e clássicos da literatura brasileira.

Ala Jovem-Quais foram as últimas premiações que a biblioteca recebeu?

EDENILSON TIBÚRCIO-Conforme levantamento do 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, o Ministério da Cultura classificou a Biblioteca Pública Municipal de Atibaia entre as 100 melhores do Brasil. Das 5.565 cidades brasileiras pesquisadas, Atibaia ocupa a honrosa 95ª posição, e no Estado de São Paulo, Atibaia está em 26ª classificação.



Ala Jovem-Qual é o papel da leitura na transformação do mundo?

EDENILSON TIBÚRCIO-A leitura amplia o conhecimento, desenvolve a criatividade, o raciocínio e a visão crítica. Ela nos permite viajar na imaginação, proporcionando a mágia da leitura.
Através da leitura aprendemos, e desta forma nos transformamos culturalmente e socialmente, mudando a própria maneira de agir, pensar e falar. É uma mudança pessoal e gradativa, mas reflete na sociedade, e dessa forma que a leitura atua na transformação do mundo, agindo em cada indivíduo.

Biblioabraço!
Juliana Gobbe

domingo, 23 de outubro de 2011

Curso de Contação de Histórias

A contadora de histórias Bernadete Pacheco traz para a nossa cidade mais uma vez o festejado curso de contação de histórias.
Dia: 29/10/11
Local: Auditório do Hospital Novo Atibaia
Horário: 9:00 às 14:00hrs
Maiores informações: 4412-39-81
Não Percam!





Abraços,

Juliana Gobbe

domingo, 16 de outubro de 2011

CAMINHO DE SANTIAGO EXTRA PRIME


por Marcelo Sguassábia

Ilustração: Thiago Cayres

Tragam-me uvas frescas e tâmaras secas, imediatamente. A um estalar de dedos, quero caviares russos recém-embalados, trufas brancas de Piemonte e leite de cabra para hidratar os pés.
Alguns condenam-me pelo excessivo fastio nessa empreitada onde deveria prevalecer o sacrifício. Respeito, mas contesto. Afinal, o próprio Santiago foi um VIP. Quer existência mais VIP do que ser um dos eleitos de Jesus Cristo, predestinado entre milhões para entrar  na história do mundo como um dos 12 apóstolos? O homem foi escolhido a dedo pra subir aos céus sem escala, com toda a pompa que os mártires merecem.
Sem querer insultar o santo, como quase todo VIP o nosso herói de Compostela soube se promover e atrair para si os holofotes da época. Reza a lenda que o glorioso Santiago quis que seus ossos fossem descobertos, após séculos esquecidos numa arca de mármore. Para tanto, patrocinou noites e noites seguidas de chuvas de estrelas, no Bosque de Libredón, onde foi enterrado. Alguém contesta que isso é gostar de aparecer? Entendo que, se ele permite que eu complete meu caminho com todas essas regalias a que me entrego, é porque o procedimento não destoa do seu código de conduta enquanto santo de primeiro time. Caso contrário, faria recair a ira divina sobre minha carcaça.
O que importa é concluir a jornada, seja lá como for. Se o faço com banquetes a cada quinhentos metros, é porque Deus me julga abençoado e concede-me a graça de que assim seja. Os que se penitenciam passando sede, fome, cãibras e dores no corpo de caso pensado, assim o fazem provavelmente por terem a consciência pesada e por saberem que devem se sacrificar para alcançar a misericórdia divina. Não é o meu caso. Sou um homem justo e de consciência limpa. Pago religiosamente sete nonos de um salário mínimo a cada um desses serviçais que me transportam na liteira e me abanam com plumas de avestruz, em turnos de 16 horas com 30 minutos de merecido descanso para um naco de goiabada. Nem Salomão dispensaria melhor tratamento a seus escravos.
Quando me enfastia ficar deitado entre linhos e sedas, apeio do meu dossel ambulante e caminho uns três minutos, não sem antes cobrir-me com o véu antimoscas, calçar meu tênis com quatro exclusivos sistemas de amortecimento simultâneo e levar comigo um razoável estoque de Perrier a -3ºC. Compreendam que uma empreitada de 800 quilômetros para purificação do espírito não pode levar à destruição do corpo. E sendo ele a morada da alma, deve ser tratado a pão-de-ló. Agora, se me dão licença, é hora de aparar minhas cutículas.
© Direitos Reservados
Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
Blogs:
www.consoantesreticentes.blogspot.com (contos e crônicas)
www.letraeme.blogspot.com (portfólio)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Semana do Livro e da Leitura.

A semana do livro e da leitura organizada pela secretaria da educação da cidade constitui um amplo projeto  literário de inserção das crianças ao maravilhoso mundo da leitura. O evento acontece no parque Edmundo Zanoni com atrações imperdíveis para todas as idades.

 

Abraços,
Juliana Gobbe

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Suprassumos da quintessência

O papel é curto.
                                                         Viver é comprido.
                                                                       Oculto ou ambíguo,
                                                           Tudo o que digo
                                                                           Tem ultrassentido.
                                                                          Se rio de mim,
                                                               Me levem a sério.
                                                                             Ironia estéril?
                                                               Vai nesse ínterim,
                                                                              Meu inframistério.
                                                                  
Paulo Leminski

Abraços,
Juliana Gobbe




sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Memórias de Lygia



Quando eu estava no ginásio, lia minhas histórias para o meu pai. Ele gostava de dizer “está bom, está muito bom; o nome da personagem é que talvez você devesse mudar”. Eu ficava radiante com essa atenção dele. Eu me dava muito bem com meu pai. Ele era um sonhador. Gostava de jogar cartas e roleta e sempre me levava junto. Era um homem bonito, inteligentíssimo. Tinha uma especial predileção pelos escritores românticos. Nós éramos muito ligados. Eu me achava parecida com ele nessa coisa de sonhar, um certo desgarramento de tudo, eu também era uma desgarrada. Meu pai não se importava com a realidade, e eu também não.
Lygia Fagundes Telles


Abraços,
Juliana Gobbe

domingo, 18 de setembro de 2011

Chico Alvim : "Sol dos cegos"

 O tema da oficina do espaço de criação literária este mês será: Chico Alvim: "Sol dos cegos". A proposta é uma leitura compartilhada  e debate sobre o ensaio do crítico Robert Schwars: O país do elefante: Um passeio dialético sobre uma das obras do poeta mineiro, um ícone da poesia pós-vanguardista no Brasil.

Dia:24 de setembro
Local:Biblioteca Municipal (Atibaia- SP)
Horário:
9:00h
Entrada Franca
Certificado de participação


Abraços,
Juliana Gobbe

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

HAROLDO DE CAMPOS NA CASA DAS ROSAS




A Casa das Rosas em São Paulo traz aos seus visitantes uma exposição sobre o poeta Haroldo de Campos, o acervo reúne praticamente todo o conteúdo que fez parte da biblioteca pessoal do autor.
No espaço há também uma exposição permanente de objetos que pertenceram ao poeta.
Haroldo de Campos nasceu em São Paulo, fez parte da chamada "geração de 45" com os ideais de ruptura em relação ao conservadorismo vigente na literatura brasileira à época.



EX/PLICAÇÃO


não há um
sentido único
num
poema

quando alguém
começa a ex-
plicá-lo e
chega ao fim
en-
tão só fica o
ex
do ponto de
partida

beco

(tente outra
vez)

sem saída
  

Haroldo de Campos





Informações: (11) 3285-69-86
Dica de Leitura: Galáxias

Abraços,

Juliana Gobbe


sábado, 27 de agosto de 2011

Marcelo Sguassabia

O escritor Marcelo Sguassabia surge no cenário literário com um estilo de vanguarda rompendo com a literatura convencional. Eis a entrevista:


AJ-    O que te motivou a ser escritor?


Marcelo-Na verdade eu sempre fui redator publicitário - primeira e única profissão desde 1986. De meados de 2005 para cá é que fui sentindo a vontade de mexer com as letrinhas fora do mundo exaustivo e nada maravilhoso da propaganda. Queria fazer algo que não tivesse nada a ver com publicidade, porém dentro do território verbal. Mas não sou o protótipo do escritor que diz que não consegue ficar sem escrever e que vai anotando insights repentinos em guardanapos de lanchonete. Escrever pra mim é lavra, é trabalho de estiva. Dá uma canseira danada. Pra dizer a verdade, passo muito bem sem escrever. Contudo, como minha habilidade pra isso ao que parece está um pouco acima da média, abracei o fardo como ofício!



AJ-  A internet facilitou o reconhecimento dos escritores atuais por parte do público?

Marcelo-Sim, pela sua característica democrática. A custo zero qualquer pessoa monta um blog em minutos. Isso é mágico e muitíssimo interessante - ainda que a imensa maioria dos blogs sejam garrafinhas jogadas ao oceano. Mas pelo menos todo mundo tem a oportunidade de lançar sua garrafinha e torcer para que alguém a encontre...



AJ- Ter um estilo convencional pode prejudicar a liberdade de expressão de um autor?

Marcelo-Penso que uma coisa não "engessa" a outra. Eu, sinceramente, gostaria de ter um estilo mais próprio, mais característico, digamos assim. Mas meus textos são mais ecléticos do que gostaria, eu oscilo facilmente da prosa poética ao besteirol. Esta "colcha de retalhos" às vezes me incomoda um pouco, embora muitas pessoas comentem comigo que é justamente este imprevisível que aguça a curiosidade do meu leitor.



AJ- Qual é o papel das “divagações oníricas” na sua literatura?

Marcelo-Muitos dos meus textos partem de um mote, um argumento absurdo. Tanto nos textos de humor quanto nos mais introspectivos, a fantasia e a criatividade têm um papel preponderante. Muitas vezes venho para o computador sem assunto algum, e deixo as associações livres de ideias irem seguindo seu curso para dar forma ao conto ou à crônica. Outras vezes começo a escrever numa determinada direção e o desenrolar da coisa me puxa para um lado que nem me passou pela cabeça antes de iniciar o trabalho.



AJ- A publicidade fez de você um escritor mais criativo?

Marcelo-Embora escreva para fugir um pouco da publicidade, penso que a prática do texto publicitário me trouxe, sim, uma maior intimidade com o raciocínio criativo. A necessidade de concisão do texto publicitário também é uma habilidade que auxilia bastante na formatação de uma crônica.



AJ- O que você lê no momento?

Marcelo-Eu queria ter tempo para ler 1% de tudo o que preciso ou tenho vontade. Atualmente estou revezando entre "Perto do Coração Selvagem", da Clarice Lispector, e "Ana Karenina", de Tolstói.



AJ-Marcelo Sguassabia escreve para quem?

Marcelo-Primeiro, para mim mesmo. E eu sou chato demais comigo. Muito do que escrevi há pouco tempo eu já renego, quero mudar, reescrever ou simplesmente descartar. Não tenho a mínima ambição de reunir em livro o que faço, pois sei que terei medo de olhar para ele na estante. Considero meu trabalho uma espécie de literatura de entretenimento, que vale hoje mas que amanhã pode estar velha - como acontece com a crônica jornalística.
 
Leia os textos de Marcelo Sguassabia:
 
 Correio Popular - Campinas


Jornalzen - Campinas

JC Regional – Pirassununga

O Movimento - Pirassununga

Gazeta de São João - São João da Boa Vista

http://www.consoantesreticentes.blogspot.com/

www.rac.com.br/blog/50/bulhufas (Campinas)

www.portaldocambui.com.br (Campinas)

www.campinas.com.br (Campinas)

www.pbondaczuk.blogspot.com (Campinas)

www.paradoxo.me (Rio de Janeiro)www.riototal.com.br (Rio de Janeiro)

www.simplicissimo.com.br (Porto Alegre)www.literaciarevistacultural.blogspot.com www.kplus.com.br (Campinas)www.mhariolincoln.com (Curitiba)

www.maisinterior.com.br (São Carlos)

www.clikbr.com.br (Atibaia)

www.corderovirtual.com.br (Cordeirópolis)www.itu.com.br (Itu)www.uraonline.com.br (Uberaba)www.vinhedonet.com.br (Vinhedo)www.ubaweb.com (Ubatuba)www.viafanzine.jor.br (Belo Horizonte)www.jornalorebate.com.br (Macaé)

www.jornalismopolitico.com (Belém)
 
 
Abraços,
 
Juliana Gobbe

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Em alguma margem da palavra.

A próxima oficina do nosso espaço vai debater o conto de João Guimarães Rosa: "A terceira margem do rio" e os usos do léxico na literatura rosiana.



Dia: 27/08/2.011
Local: Biblioteca Municipal ( Atibaia- SP)
Horário: 09:00hrs.
Entrega de certificado de participação.
Oficina gratuita.

Abraços,
Juliana Gobbe








domingo, 21 de agosto de 2011

A biblioteca de Babel





"By this art you may contemplate

the variation of the 23 letters..."

The Anatomy of Melancholy, part 2, sect. II, mem. IV



O universo (a que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no meio, cercados por parapeitos baixíssimos. De qualquer hexágono vêem-se os pisos inferiores e superiores: interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, a cinco longas estantes por lado, cobrem todos os lados menos dois; a sua altura, que é a dos pisos, mal excede a de uni bibliotecário normal. Uma das faces livres dá para um estreito saguão, que vai desembocar noutra galeria, idêntica à primeira e a todas. À esquerda e à direita do saguão há dois gabinetes minúsculos. Um permite dormir de pé; o outro, satisfazer s necessidades fecais. Por aí passa a escada em espiral, que se afunda e e eleva a perder de vista. No saguão há um espelho, que fielmente duplica as aparências. Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que serviria esta duplicação ilusória?); eu prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito... A luz provém de umas frutas esféricas que têm o nome de lâmpadas. Há duas em cada hexágono: transversais. A luz que emitem é insuficiente, incessante.

Tal como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, se calhar do catálogo dos catálogos; agora que os meus olhos quase não conseguem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer a poucas léguas do hexágono em que nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me atirem pela balaustrada; a minha sepultura será o ar insondável; o meu corpo precipitar-se-á longamente até se corromper e dissolver no vento gerado pela queda, que é infinita. Eu afirmo que a Biblioteca é interminável. Os idealistas argumentam que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto, ou pelo menos da nossa intuição do espaço. Consideram que é inconcebível uma sala triangular ou pentagonal. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revela uma câmara circular com um grande livro circular de lombada contínua, que dá toda a volta das paredes; mas o seu testemunho é suspeito; as suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico e Deus.) Basta-me por agora repetir a clássica sentença: «A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, e cuja circunferência é inacessível.»

A cada uma das paredes de cada hexágono correspondem cinco prateleiras; cada prateleira contém trinta e dois livros de formato uniforme; cada livro é de quatrocentas e dez páginas; cada página, de quarenta linhas; cada linha, de umas oitenta letras de cor negra. Também há letras na lombada de cada livro; estas letras não indicam nem representam o que dirão as páginas. Sei que esta incongruência já chegou a parecer misteriosa. Antes de resumir a solução (cuja descoberta, apesar das suas trágicas projecções, é talvez o facto capital da história) vou rememorar alguns axiomas.

O primeiro: A Biblioteca existe ab aeterno. Desta verdade cujo corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma mente razoável pode duvidar. O homem, o imperfeito bibliotecário, pode ser obra do acaso ou dos demiurgos malévolos; o universo, com a sua elegante dotação de estantes, de tomos enigmáticos, de infatigáveis escadas para o viajante e de latrinas para o bibliotecário sentado, só pode ser obra de um deus. Para perceber a distância que existe entre o divino e o humano, basta comparar estes rudes símbolos trémulos que a minha falível mão garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas.

O segundo: «O número de símbolos ortográficos é vinte e cinco». Foi esta observação que permitiu, há trezentos anos, formular uma teoria geral da Biblioteca e resolver satisfatoriamente o problema que nenhuma conjectura tinha ainda decifrado: a natureza informe e caótica de quase todos os livros. Um, que o meu pai viu num hexágono do circuito quinze noventa e quatro, constava apenas das letras M C V perversamente repetidas da primeira linha até à última. Outro (muito consultado nesta zona) é um simples labirinto de letras, mas a penúltima página diz «Oh tempo as tuas pirâmides.» Já se sabe: por uma linha razoável ou uma notícia correcta há léguas de insensatas cacofonias, de embrulhadas verbais e de incoerências. (Sei de uma bárbara região cujos bibliotecários repudiam o vão e supersticioso costume de procurar sentido nos livros e o equiparam ao de procurá-lo nos sonhos ou nas linhas caóticas da mão... Admitem que os inventores da escrita imitaram os vinte e cinco

símbolos naturais, mas afirmam que essa aplicação é casual e que os livros em si nada significam. Esta opinião, como veremos, não é totalmente falaciosa.)

Durante muito tempo julgou-se que esses livros impenetráveis correspondiam a línguas pretéritas ou remotas. É verdade que os homens mais antigos, os primeiros bibliotecários, usavam uma linguagem bastante diferente da que falamos agora; é verdade que poucas milhas à direita a língua é dialectal e que noventa pisos mais acima é incompreensível. Tudo isto, repito, é verdade, mas quatrocentas e dez páginas de inalteráveis M C V não podem corresponder a nenhum idioma, por mais dialectal ou rudimentar que seja. Houve quem insinuasse que cada letra podia ter influência sobre a seguinte e que o valor de M C V na terceira linha da página 71 não era o que pode ter a mesma série noutra posição de outra página, mas esta vaga tese não prosperou. Outros pensaram em criptografias; universalmente, aceitou-se esta conjectura, embora não no sentido em que a formularam os seus inventores.

Há quinhentos anos, o chefe de um hexágono superior[1] deu com um livro tão confuso como os outros, mas que tinha quase duas folhas de linhas homogéneas. Mostrou o seu achado a um decifrador ambulante, que lhe disse que estavam redigidas em português; outros disseram-lhe que era iídiche. Em menos de um século conseguiu-se estabelecer o idioma: um dialecto samoiedo-lituano do guarani, com inflexões de árabe clássico. Também se decifrou o conteúdo: noções de análise combinatória, ilustradas por exemplos de variações com repetição ilimitada. Estes exemplos permitiram que um bibliotecário de génio descobrisse a lei fundamental da Biblioteca. Este pensador observou que todos os livros, por muito diferentes que sejam, constam de elementos iguais: o espaço, o ponto, a vírgula, as vinte e duas letras do alfabeto. Também acrescentou um facto que todos os viajantes têm confirmado: «Não há, na vasta Biblioteca, dois livros idênticos.» Destas premissas incontroversas deduziu que a Biblioteca é total e que as suas estantes registam todas as possíveis combinações dos vinte e tal símbolos ortográficos (número, embora vastíssimo, não infinito) ou seja, tudo o que nos é dado exprimir: em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catálogo fiel da Biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a demonstração da falácia desses catálogos, a demonstração da falácia do catálogo verdadeiro, o evangelho gnóstico de Basilides, o comentário desse evangelho, o comentário do comentário desse evangelho, o relato verídico da tua morte, a versão de cada livro em todas as línguas, as interpolações de cada livro em todos os livros, o tratado que Beda pode ter escrito (e não escreveu) sobre a mitologia dos Saxões, os livros perdidos de Tácito.

Quando se proclamou que a Biblioteca abrangia todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens se sentiram senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução não existisse: nalgum hexágono. O universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as dimensões ilimitadas da esperança. Naquele tempo falou-se muito das Reabilitações: livros de apologia e de profecia, que para sempre reabilitavam os actos de todos os homens do universo e guardavam arcanos prodigiosos para o seu porvir. Milhares de cobiçosos abandonaram o doce hexágono natal e lançaram-se pelas escadas acima, impelidos pelo vão propósito de encontrar a sua Reabilitação. Estes peregrinos brigavam nos corredores estreitos, proferiam obscuras maldições, estrangulavam-se nas escadas divinas, atiravam os livros enganadores para o fundo dos túneis, morriam defenestrados pelos homens de regiões remotas. Outros enlouqueceram... As Reabilitações existem (eu vi duas que se referem a pessoas do futuro, a pessoas porventura não imaginárias), mas os pesquisadores não se lembravam que a possibilidade de um homem achar a sua, ou alguma pérfida variação da sua, se pode computar à volta do zero.

Também se esperou então o esclarecimento dos mistérios básicos da humanidade: a origem da Biblioteca e do tempo. É verosímil que estes graves mistérios possam explicar-se por palavras: se não bastar a linguagem dos filósofos, a multiforme Biblioteca deve ter produzido o idioma inaudito que se requer, bem como os vocabulários e gramáticas desse idioma. Há já quatro séculos que os homens não dão descanso aos hexágonos... Há pesquisadores oficiais, inquiridores. Vi-os no desempenho da sua função: chegam sempre esgotados; falam de um escadote sem degraus que quase os matou; falam de galerias e de escadas com o bibliotecário; algumas vezes, pegam no livro mais próximo e folheiam-no, em busca de palavras infames. Visivelmente, ninguém espera descobrir nada.

À desaforada esperança, como é natural, sucedeu-se uma depressão excessiva. A certeza de que alguma prateleira nalgum hexágono continha livros preciosos e de que esses livros preciosos eram inacessíveis, pareceu quase intolerável. Uma seita blasfema sugeriu que cessassem as buscas e que todos os homens misturassem letras e símbolos, até construírem, por meio de um improvável dom do acaso, esses livros canónicos. As autoridades viram-se obrigadas a promulgar ordens severas. A seita desapareceu, mas na minha infância vi homens velhos que longamente se ocultavam nas latrinas, com uns discos de metal num covilhete proibido, e fracamente imitavam a divina desordem.

Outros, pelo contrário, acreditaram que a prioridade era eliminar as obras inúteis. Invadiam os hexágonos, exibiam credenciais nem sempre falsas, folheavam com tédio um volume e condenavam estantes inteiras: ao seu furor higiénico e ascético deve-se a insensata perda de milhões de livros. O seu nome é execrado, mas quem deplora os «tesouros» que o seu frenesi destruiu descura dois factos notórios. Um: a Biblioteca é de tal forma enorme que toda a redução de origem humana se torna infinitésima. Outro: cada exemplar é único, insubstituível, mas (como a Biblioteca é total) há sempre várias centenas de milhares de fac-símiles imperfeitos: de obras que só diferem por uma letra ou por uma vírgula. Contra a opinião geral, atrevo-me a supor que as consequências das depredações cometidas pelos Purificadores foram exageradas pelo terror que esses fanáticos provocaram. Impelia-os o delírio de conquistar os livros do Hexágono Carmesim: livros de formato menor que os naturais; omnipotentes, ilustrados e mágicos.

Também sabemos doutra superstição daquele tempo: a do Homem do Livro. Nalguma estante de algum hexágono (pensaram os homens) deve existir um livro que seja a chave e o resumo perfeito de todos os outros: deve haver algum bibliotecário que o tenha estudado e seja análogo a um deus. Na linguagem desta zona hão-de persistir ainda vestígios do culto desse funcionário remoto. Fizeram-se muitas peregrinações à procura d'Ele. Durante um século percorreram em vão os mais diversos rumos. Como localizar o venerado hexágono secreto que o alojava? Alguém propôs um método regressivo: Para localizar o livro A, consultar previamente um livro B que indique o sítio de A; para localizar o livro B, consultar previamente um livro C, e assim por diante até ao infinito... Foi em aventuras destas que desperdicei e consumi os meus anos de vida. Não acho inverosímil que nalguma estante do universo haja um livro total[2]; rogo aos deuses ignorados que um homem — um só que seja, há milhares de anos! — o tenha examinado e lido. Se não forem para mim a honra e a sabedoria e a felicidade, que sejam para outros. Que o céu exista, mesmo que o meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas que num instante, num ser, a Tua enorme Biblioteca se justifique.

Afirmam os ímpios que o disparate é normal na Biblioteca e que o razoável (e até a humilde e pura coerência) é uma quase milagrosa excepção. Falam (eu sei-o) da «Biblioteca febril, cujos fortuitos volumes correm o incessante risco de se transformarem noutros e que tudo afirmam, negam e confundem como uma divindade que delira». Estas palavras que não só denunciam a desordem, mas também a exemplificam, provam de maneira notória o seu péssimo gosto e a sua desesperada ignorância. Com efeito, a Biblioteca inclui todas as estruturas verbais, todas as variações que permitem os vinte e cinco sinais ortográficos, mas não um único disparate absoluto. Não vale a pena observar que o melhor volume dos muitos hexágonos que administro se intitula Trono penteado, e outro A cãibra de gesso e outro Axaxaxas mlö. Essas propostas, à primeira vista incoerentes, sem dúvida são susceptíveis de uma justificação criptográfica ou alegórica; essa justificação é verbal e, ex hypothesi, já figura na Biblioteca. Não posso combinar uns caracteres dhcmrlchtdj

que a divina Biblioteca não haja previsto e que nalguma das suas línguas secretas não contenham um terrível sentido. Ninguém pode articular uma sílaba que não esteja plena de ternuras e de temores; que não seja nalguma dessas linguagens o nome poderoso de um deus. Falar é incorrer em tautologias. Esta epístola inútil e palavrosa já existe num dos trinta volumes das cinco prateleiras de um dos incontáveis hexágonos — e também a sua refutação. (Um número n de linguagens possíveis usa o mesmo vocabulário; numas, o símbolo biblioteca admite a correcta definição ubíquo e duradouro sistema de galerias hexagonais, mas biblioteca é pão ou pirâmide ou outra coisa qualquer, e as sete palavras que a definem têm outro valor. Tu que me lês, tens a certeza de que compreendes a minha linguagem?)

A escrita metódica distrai-me da presente condição dos homens. A certeza de que está tudo escrito anula-nos ou envaidece-nos. Conheço distritos onde os jovens se ajoelham diante dos livros e lhes beijam barbaramente as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra. As epidemias, as discórdias heréticas, as peregrinações, que inevitavelmente degeneram em banditismo, têm dizimado a população. Creio já ter mencionado os suicídios, de ano para ano cada vez mais frequentes. Talvez me enganem a velhice e o temor, mas tenho a suspeita de que a espécie humana — a única — está prestes a extinguir-se e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.

Acabo de escrever infinita. Não intercalei este adjectivo por um hábito retórico; digo que não é ilógico pensar que o mundo é infinito. Quem o julga limitado, postula que em lugares longínquos os corredores e escadas e hexágonos podem inconcebivelmente cessar — o que é absurdo. Quem o imagina sem limites, esquece que os tem o número possível de livros. Atrevo-me a insinuar esta solução do antigo problema: A biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direcção, verificaria ao cabo dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, repetida, seria uma ordem: a Ordem). A minha solidão alegra-se com esta elegante esperança[3].

José Luís Borges

Mar da Prata, 1941.

Abraços,

Juliana Gobbe

sábado, 13 de agosto de 2011

Método prático da guerrilha



O autor Marcelo Ferroni  traz ao público brasileiro o livro: Método prático da guerrilha, baseado nos métodos aplicados por Che Guevara na práxis revolucionária. O livro foi escolhido o melhor do ano na categoria autor estreante no prêmio São Paulo de literatura 2.011.


Abraços,

Juliana Gobbe