domingo, 25 de agosto de 2013

Lançamento de livro

Ontem foi um dia de festa para o cordel brasileiro. Marco Haurélio lançou em São Paulo seu mais recente livro: Artes do Caipora em Cordel. O evento foi uma celebração da cultura popular lá representada por cantores e escritores.









Nossa dica de leitura:



Abraços,
Juliana Gobbe

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Brecht



Há 57 anos morria Bertold Brecht.

Quero que vocês saibam que me atormenta uma insáciável curiosidade pelo que diz respeito ao homem; nunca me cansarei de vê-lo e ouvi-lo. Me interessa a forma como os homens se tratam entre si; me interessam suas inimizades e amizades, o modo como vendem cebolas, como planejam suas campanhas bélicas, como decidem seus casamentos; me interessa o modo como confeccionam suas roupas de lã, como colocam em circulação bilhetes falsificados, como cozinham seu alimento, como observam o céu; me interessa o modo como se enganam uns aos outros, como se elegem, como transmitem seus ensinamentos, como se exploram, como se julgam, como se mutilam, como se apóiam, como se reúnem, como se associam, como fazem intrigas. Quero saber como chegam a concretizar todos esses empreendimentos e quero conhecer o resultado de todos eles.
Bertold Brecht

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Amado Jorge

Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem. Menino grapiúna, cidadão da cidade pobre da Bahia, onde quer que esteja não passo de simples brasileiro andando na rua, vivendo. Nasci empelicado, a vida foi pródiga para comigo, deu-me mais do que pedi e mereci. Não quero erguer um monumento nem posar para a História cavalgando a glória. Que glória? Puf! Quero apenas contar algumas coisas, umas divertidas, outras melancólicas, iguais à vida. A vida, ai, quão breve navegação de cabotagem!
Jorge Amado.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Marco Haurélio

O escritor Marco Haurélio nasceu em Riacho de Santana na Bahia. Conviveu desde muito jovem com as manifestações da cultura popular nordestina. Através de uma sensibilidade ímpar registrou a literatura oral do sertão baiano.
É autor de uma produção poética elogiada por crítica e leitores. Seu livro mais recente destina-se aos educadores do Brasil: Literatura de Cordel – Do sertão à sala de aula.
Na penúltima sextilha de O romance do Príncipe do Reino do Limo Verde, lemos:

Por isso é que Marco Haurélio
Não se rende nem se vende,
Luta com as armas que tem:
Ora ataca, ora defende.
Algumas vezes ensina
E, ensinando, ele aprende.

O escritor baiano concedeu uma entrevista exclusiva ao nosso blog. Os amantes da cultura popular agradecem esse olhar identificador de uma prática social longeva que ora se manifesta nas expressões espontâneas do povo brasileiro.

                              

ECL- Frequentemente se estabelece alguma confusão quando se fala em cordel, embolada e repente. Quais seriam as diferenças entre estas três manifestações?

MARCO HAURÉLIO- Bem, para começo de conversa, o cordel pertence ao âmbito da literatura, ao passo que o repente e a embolada são manifestações da oralidade. Embora o cordel se vincule, como toda a poesia que chamo de bárdica, à oralidade, se diferencia do repente e, mais ainda da embolada, por sua função. O repente está mais próximo à tradição medieval dos menestréis, com a viola substituindo a bandurra e outros elementos de cordas, e a embolada, com seus instrumentos de percussão, se aproximam mais das tradições vindas da África. Embora, num país como o Brasil, em que a pluralidade cultural salta aos olhos, estas fronteiras não podem ser delimitadas com precisão.

ECL-  No cerne da cultura popular costuma se afirmar que Leandro Gomes de Barros é o “pai” da literatura de cordel no Brasil. Conte nos sobre os feitos deste exímio cordelista.

MARCO HAURÉLIO- Leandro Gomes de Barros é o pai da literatura de cordel como a conhecemos hoje. O que não significa que ele tenha sido o primeiro a escrever cordel no Brasil. Houve outros antes dele, como João Santana de Maria, o Santaninha, citado por Sílvio Romero. Mas é a partir dele, Leandro, dos temas que desenvolveu e das causas que abraçou, que o cordel se consolidou. É esta semente, cultivada por mais de um século, por poetas como José Camelo de Melo, Joaquim Batista de Sena, Manoel Camilo dos Santos, Delarme Monteiro, Manoel D’Almeida Filho, e, atualmente, por Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Rafael Neto e Klévisson Viana, para ficar em alguns, que Leandro plantou com o zelo dos que enxergam além. Por exemplo, são dele a Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, base de todas as pelejas em que um cantador tem o demônio como antagonista; a História da Donzela Teodora, versão em cordel de um livro do povo que aproxima uma figura arquetípica, a donzela sábia das Mil e uma noites, ao universo de disputas verbais dos cantadores nordestinos; a Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, obra que melhor aproveita um episódio do ciclo carolíngio, mais presente na tradição das cavalhadas do que propriamente no cordel; e O cachorro dos mortos, talvez o melhor cordel dramático de todos os tempos.



ECL-  No seu livro Breve História Da Literatura De Cordel encontramos a seguinte passagem: “As narrativas populares, de fundo heroico, satírico ou religioso, impregnaram a obra dos grandes escritores da Idade Média e do Renascimento”. Quais são os autores mais importantes dessa época?

MARCO HAURÉLIO- São tantos, e quase todos bebiam na fonte da oralidade. Para ficar em alguns: Chaucer, autor dos Contos de Canteburry; Boccaccio, que com o Decameron, forneceu muitos temas à literatura picaresca; Rabelais, se insurgindo contra os modelos clássicos em seu Gargantua; e William Shakespeare, que foi buscar nas tradições populares de vários países a inspiração para sua obra imortal.


ECL-  No que diz respeito às capas dos folhetos, sabe-se que antigamente eram chamadas de “capas cegas”, ou seja, sem ilustrações. Com o passar do tempo desenhos e fotos ganharam espaço. Como a xilogravura insere se neste contexto?

MARCO HAURÉLIO- A primeira xilogravura apareceu, como fato isolado, em uma capa de um folheto de Francisco das Chagas Batista, datado de 1907. Na década de 1930, era usada em pequena escala, mas a preferência dos editores como João Martins de Athayde era pelo desenho. Com a venda do espólio de Athayde, paraibano que estabeleceu indústria gráfica no Recife e se tornou o maior editor  de cordel de todos os tempos, para o alagoano José Bernardo, que vivia em Juazeiro do Norte (CE), a xilogravura passou a ser usada com mais frequência. Juazeiro, como sabemos, é um centro religioso cuja vida cultural e social gira até hoje em torno da figura do Padre Cícero Romão Batista. Havia, e ainda há, na cidade muitos s que trabalhavam a madeira. Então, os clichês zincografados, com os quais Athayde trabalhava, já velhos e gastos foram substituídos por imagens talhadas na madeira por atesãos como Inocêncio da Costa Nick, Walderedo Gonçalves e Damásio Paulo da Silva. E também pelo genial Stênio Diniz, neto de José Bernardo. Paralelamente, na região de Caruaru (PE), cidade do agreste famosa por sua feira celebrizada por Luiz Gonzaga, nos versos de Onildo Almeida, os poetas desenvolveram um estilo mais simples, mas igualmente marcante. É o que o pesquisador Jeová Franklin de Queirós denomina “escola pernambucana”, que tem nomes como J. Borges, José Costa Leite e Jota Barros.



ECL-  Como você avalia o cordel na Literatura contemporânea? Os educadores podem de alguma forma contribuir para o fomento da cultura popular junto aos educandos?

MARCO HAURÉLIO- O cordel na atualidade está presente em duas frentes. Continua sendo vendido no meio tradicional, mesmo sem o vigor dos tempos áureos, em cidades como Juazeiro do Norte (CE), Bom Jesus da Lapa (BA), Canindé (CE), na Feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza e no Mercado Modelo, em Salvador. Poetas como o baiano Zeca Pereira ainda correm de cidade em cidade, com uma mala de folhetos, o que é louvável, pois alimenta a tradição itinerante do cordel. Por outro lado, principalmente a partir da mostra Cem Anos de Cordel, idealizada pelo jornalista Audálio Dantas, em 2001, que teve como cenário o SESC Pompeia em São Paulo, grandes editoras passaram a se interessar pelo gênero. A editora Hedra lançou, sob coordenação do saudoso pesquisador Joseph Luyten, a coleção Biblioteca de Cordel. Em 2007, a Nova Alexandria criou a coleção Clássicos em Cordel, sob minha coordenação, que já se aproxima dos vinte títulos e traz autores como João Gomes de Sá, Klévisson Viana, Moreira de Acopiara, Geraldo Amâncio Pereira, Varneci Nascimento, Rouxinol do Rinaré, entre outros. Discute-se se esse novo cordel é um híbrido ou somente a tradição atualizada. Mas o que chama a atenção é a vitalidade de um gênero que, por várias vezes, teve a morte anunciada por pesquisadores como Átila Almeida, mas soube se adaptar aos novos tempos e às demandas da contemporaneidade. Nesse contexto, o cordel chega à sala de aula. Os educadores podem — e devem — trabalhá-lo. Antes, porém, é preciso que pesquisem sua história e características, para não confundirem o gênero, que é o cordel, com o formato em que é publicado — predominantemente o folheto. Lamentavelmente, a maior parte dos textos da internet, a começar pelo verbete na Wikipédia, que traz uma espécie de linha evolutiva totalmente equivocada, misturando, de forma gratuita, vários gêneros da chamada poesia popular.



ECL-  Em que contexto se deu a criação da “Caravana do Cordel” em São Paulo?

MARCO HAURÉLIO- A Caravana do Cordel surgiu em 2009, mas foi gestada a partir de várias experiências dos poetas nordestinos residentes em São Paulo. A princípio, o nome Caravana do Cordel, sugestão minha, abarcava qualquer movimentação dos poetas, como, por exemplo, a presença da coletividade no lançamento de um livro. A ideia ganhou corpo como movimento, depois que um dos membros fundadores, o cearense Costa Senna, sugeriu aos responsáveis pelo Espaço Cineclubista da Baixa Augusta a realização de um encontro mensal de cordelistas. Assim, o evento passou a chamar-se também Caravana do Cordel, ampliando o conceito. Antes disso, a iniciativa pioneira de João Gomes de Sá, o Salão da Literatura de Cordel, realizado em Guarulhos, forneceu o modelo seguido pela Caravana, respeitando a característica e o potencial de cada membro. Depois, o evento tornou-se itinerante e viajou pelo interior de São Paulo e de Minas Gerais. Hoje, por conta da agenda de seus membros, as apresentações têm sido mais esparsas, mas o conceito permanece.

Dica de Leitura:


Literatura de Cordel - Do Sertão à sala de aula.
Editora Paulus

    
                                 

 Abraços,
Juliana Gobbe