terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Renato Andrioli: Palavras vibrantes.

Renato Andrioli é um jovem de 33 anos, especialista em idiomas, tais como: português, inglês, espanhol e alemão. Hoje em dia atua como tradutor intérprete de muito sucesso no meio corporativo, literário, político, químico, industrial entre outros.
Nos momentos de inspiração...escreve poesias.

   

 AJ- Qual foi o livro que você mais gostou de ler?

RENATO ANDRIOLI-Pergunta difícil! O mais marcante foi também o primeiro livro que li, "Demian" de Hermann Hesse (escritor alemão, Nobel de literatura, 1946). E certamente um dos que mais gostei, foi também um do qual participei de parte da tradução que foi "O Labirinto do Mundo e o Paraíso do Coração" de Comenius, publicado pela Ed. Comenius em novembro de 2010. Os dois livros tratam de um estranhamento do mundo por parte da personagem principal, o que acaba trazendo muitas reflexões sobre a nossa realidade e novas formas de ver  tudo o que nos cerca.

AJ-Quais as maiores dificuldades que os tradutores enfrentam hoje no Brasil?

RENATO ANDRIOLI- Nada é realmente fácil para ninguém, imagino. Em um passado não muito distante o maior desafio dos tradutores era a falta de ferramentas práticas que possibilitassem as pesquisas nas mais diversas áreas. Pois, para traduzir sobre um determinado tema é preciso estudo. Quanto mais especialista no tema o tradutor é , melhor e mais facilmente vai conseguir traduzir o texto. Hoje há a internet e os avanços tecnológicos que facilitam muito a pesquisa, cabe ao tradutor filtrar as informações para saber o que vai ser mais adequado no seu texto ou não diante da diversidade de opções, jargões, vocabulário.
 Um outro desafio que enfrentam os tradutores de modo geral, pelo menos aqueles que querem entrar para o mercado editorial é que muitas vezes ficam subjugados às políticas de algumas editoras que nem sempre estão de acordo com as práticas de preços e prazos praticado pelos profissionais de tradução do mercado e acabam tendo que trabalhar por um preço bem mais baixo daquele que deveria ser pago. 
 Ainda têm a questão do mercado corporativo que quer sempre o melhor preço e uma tradução de qualidade para seus manuais técnicos e comunicações de modo geral. Se você é um bom profissional não terá problemas em entregar uma tradução de qualidade o desafio é mostrar para o cliente que nem sempre aquele que está só aventurando a dar uma de tradutor cobrando metade do preço é a melhor opção para quem busca alta qualidade e precisão técnica.

AJ- O que é  uma tradução de qualidade?

RENATO ANDRIOLI-Uma tradução de qualidade para mim, é aquela que não perde de foco a finalidade do texto. Explico, se é um manual, o grau de precisão e clareza é mais importante do que o grau de expressividade de um texto literário por exemplo, é quando vale à pena abrir mão de uma estrutura mais bonitinha para evitar uma ambigüidade por exemplo. Já num texto jornalístico por exemplo dependendo do artigo, importa mais o tom jocoso e de humor e assim por diante e nestes casos vale até trocar a piada/expressão considerando os traços culturais do que traduzir uma que faça sentido numa língua e nenhum na outra.
 Em suma, uma tradução de qualidade é aquela que melhor transmite as ideias do texto original em todos os aspectos sejam eles técnicos ou afetivos.

AJ-Existe algum livro que você gostaria de ter traduzido?

 RENATO ANDRIOLI-Gostaria de traduzir um livro com uma história que de algum modo mostrasse uma sociedade de homens iguais unidos pelos valores universais da moral, justiça, respeito. Um que pudesse contribuir com a evolução do mundo e da humanidade. Que despertasse a consciência social, de humanidade, respeito pela natureza e que fosse lido por muitas pessoas, milhões. Não sei este livro existe, existiu ou existirá, se será um ou já é o conjunto de todos os livros.
 Seja como for, gosto de associar a tradução com conectividade entre os povos do mundo. Qualquer trabalho que me faça estar envolvido com isto sempre vai me trazer grande satisfação.

AJ-Um recado para os jovens escritores.

RENATO ANDRIOLI-Não há desafio ou obstáculo que não possa ser vencido diante da busca autência de um ideal. No mundo há muitas dificuldades, na área da educação, leitura, literatura então nem se fala. Gosto muito de ser tradutor, é um trabalho que me dá um grande senso de propósito, e só houve alguém que me deu o primeiro texto para traduzir, porque houve alguém que acreditava em mim, na minha vontade, que sabia das dificuldades que eu enfrentava para alcançar o que queria e que sempre me identificava como tradutor. Este alguém era eu mesmo.
Um pouco de poesia:

Visitando o vovô!

O Velhinho ali doente, ansioso espera gente.
No dia de visitas o neto vem todo contente.
A vida foi mesmo dura e a hora é de aceitar,
sofrimento dor ou solidão, não existem sem parar.

Chegou o netinho querido. Que alegria ver e conversar!
Criança não vê dor; brinca, envolve a todos com amor.
O pai, a mãe o filho com o avô vieram ter
momentos agradáveis e divertidos, de prazer!


Certa hora diz o velho:- Algo sério vou contar...
- Importante deixar claro, vou partir e isto é fato!
-Vou feliz porque é hora, e todo mundo um dia vai embora.
E lá neste lugar, viver feliz e trabalhar.

O pai todo durão, reprova e fala não.
A mulher, que é filha e mãe vai e diz talvez.
A criança que é carinho e compaixão,
olha perto e põe-lhe a mão.

O velhinho ali doente, contou o que queria.
E agora está contente e partirá com gratidão.
Do homem leva o não, da filha o talvez.
Do netinho que é carinho e compreensão,
leva o olhar e o toque de emoção.




A temática da morte é recorrente na literatura universal, extrato do cotidiano nem sempre poetizado.
Através  de músicas, poesias, romances e filmes o assunto muitas vezes nos convida a pensar sobre saudade. Lembro-me da frase final do filme Central do Brasil proferida pela personagem Dora ( Fernanda Montenegro) : "Tenho saudade do meu pai...tenho saudade de tudo." SAUDADE:  palavra brasileira...distância.
Parabéns Renato pela captação do sensível escondido na dor.
 


Dica de leitura: A Arte de Morrer ( Visões Plurais)
Organização: Franklin Santana
Editora: Comenius.

Abraços,

Juliana Gobbe.

2 comentários:

  1. Adorei a entrevista e as palavras bem colocadas do Renato. Seu trabalho como tradutor ultrapassa o profissional e percorre a nobre virtude de ser o "educador" em sua arte de traduzir. Parabéns!

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  2. Renato, vc supera a si e surpreende positivamente a todos penso com essa sua afirmativa: "Gostaria de traduzir um livro com uma história que de algum modo mostrasse uma sociedade de homens iguais unidos pelos valores universais da moral, justiça, respeito. Um que pudesse contribuir com a evolução do mundo e da humanidade. Que despertasse a consciência social, de humanidade, respeito pela natureza e que fosse lido por muitas pessoas, milhões. Não sei este livro existe, existiu ou existirá, se será um ou já é o conjunto de todos os livros.” Pergunto, será que esse livro não está pronto na sua cabeça esperando somente que você lhe dê vazão?
    []’s fra, Josecler

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