quarta-feira, 30 de outubro de 2013

ELIZANDRA SOUZA



Elizandra Souza é Poeta, Jornalista, Editora da Agenda Cultural da Periferia na Ação Educativa, locutora da Rádio Comunitária Heliópolis FM. Co-organizadora da Antologia Pretextos de Mulheres Negras com Carmen Faustino e textos de 20 poetisas negras. Autora do livro de poesias Águas da Cabaça, totalmente produzido por jovens mulheres negras com ilustrações de Salamanda Gonçalves (BA) e Renata Felinto (SP), lançado em outubro de 2012. Co-autora do livro de poesias Punga com Akins Kintê (Edições Toró, 2007) e participante  em antologias literárias como:Cadernos Negros, Negrafias, entre outras. Colaboradora da Revista O Menelick 2º Ato -MandelaCrew –Comunicação e Fotografia. Idealizadora do evento Mjiba em Ação – Comemoração ao Dia da Mulher Negra (25 de julho). Editora do Fanzine Mjiba (2001-2005).

A escritora nos concedeu a seguinte entrevista:



ECL- A jornalista Mel Adún faz a seguinte afirmação no prefácio do seu último livro: “A poesia de Elizandra Souza dança ao ritmo do hip-hop, dialoga com a juventude negra e desobedece ao racismo, quando se faz voz de si mesma e das suas. Trazendo a tona nossas dores, alegrias e anseios, do micro ao macro, da perifa de São Paulo para o mundo; sem perder uma identidade preta, feminina e uterina”. Qual é o papel dos poetas na sociedade atual?

ELIZANDRA SOUZA- O papel do poeta é o mesmo de todos os cidadãos, mas a arte consegue sensibilizar e tratar de temáticas sejam elas prazerosas ou de mal-estar, temáticas que a sociedade ou tenta esconder, que é o caso do racismo e da invisibilidade da população negra, no meu caso, a minha poesia fala constantemente da mulher negra, que esta na base da pirâmide social. Mulheres negras que carregam na pele o racismo e a desigualdade social e sustentam toda a sociedade. As minhas poesias trazem essa ancestralidade para que as mulheres negras possam se ver refletidas nos espelhos e com sua autoestima conseguir combater o racismo, se perceberem belas e protagonistas. O plano é audacioso, mas é um passo a passo diariamente.

ECL- Ao longo do livro Águas da Cabaça o leitor encontra vários excertos de textos de algumas escritoras, tais como: J. Nozipo Maraire, Maria Tereza, Zora Neale Hurston, entre outras. Como surgiu a ideia de homenageá-las?

ELIZANDRA SOUZA- Na verdade não é nem uma intenção de homenagem, mas uma forma de reverenciar autoras negras que são minhas leituras bases para me perceber como mulher negra, pois o racismo é tão escroto, que não nos vemos bonitas e inteligentes. E essas leituras me alimentam para protagonizar a minha arte e foi uma forma de apresenta-las para os leitores, pois temos dificuldades de encontrar referências bibliográficas dessas escritoras, outro dia ministrei um bate papo com professores e na roda de apresentação solicitei que falassem seus nomes e dissessem o nome de um escritor ou escritora negra, foi um silêncio constrangedor, até que alguém já na metade dos participantes, lembrou de Machado de Assis, aí foi outro constrangimento, pois a maioria nem sabia que o nosso principal escritor brasileiro é negro...Imagine se eu perguntasse só escritoras negras, lembrando que estou falando de professores que são as nossas fontes de conhecimento. Foi por essa provocação que citei trechos de livros e poesias de mulheres negras de várias partes do Brasil e do mundo como: Moçambique e Estados Unidos.

ECL- A poesia Gameleira foi escrita em homenagem ao escritor Luís Gama. Sabe-se que o autor com a publicação de Primeiras Trovas Burlescas de Getulino ridicularizou a aristocracia e os poderosos de sua época. Na sua concepção, qual foi a maior contribuição dada pelo escritor baiano à nossa sociedade?

ELIZANDRA SOUZA- Luís Gama é uma referência, uma personalidade negra que traz várias simbologias: poeta, advogado abolicionista, filho de Luiza Mahin, uma das lideranças mulheres da Revolta dos Malês. Ele deveria ser mais conhecido pela nossa sociedade, mas poucas pessoas conhecem. Ele é muito importante como outros que são inviabilizados pelo racismo. 

ECL- O sarau Cooperifa é uma das principais atividades de manifestação da cultura popular da cidade de São Paulo. Como se estrutura esses encontros? Todos podem participar?

ELIZANDRA SOUZA- O Sarau da Cooperifa completou nesse mês de outubro, 12 anos de atividades,que  acontecem todas as quartas-feiras no Bar do Zé Batidão na Zona de Sul da Periferia de São Paulo. Esporadicamente realiza-se outras atividades como Chuva de Livros, Sarau nas Escolas e Bibliotecas, Poesia no Ar e Mostra Cultural da Cooperifa. O sarau tem microfone aberto e todas as pessoas são bem-vindas.

ECL- Quais são os escritores preferidos da (leitora) Elizandra Souza?

ELIZANDRA SOUZA- As cinco autoras citadas em Águas da Cabaça:
- Conceição Evaristo
- Pauline Chiziane
- Maria Tereza
- Zora N. Hurston
- J. Nozipo Maraire
Demais:
- Elisa Lucinda
- Cristiane Sobral
- Carolina Maria de Jesus
- Mel Adún
- Cadernos Negros
- Cuti
- Nei Lopes
- José Carlos Limeira
- Fábio Mandingo
- Não negros (as) : 
- Eduardo Galeano
-Clarissa Estes Pinkola
-Mario Quintana
-Manoel de Barros
-Carlos Drummond de Andrade
-Guimarães Rosa
-Cora Coralina
-Clarisse Lispector

Aproveitamos para convidá-los para o lançamento da Antologia poética: Pretextos de Mulheres Negras organizada por Carmen Faustino e Elizandra Souza.



 Abraços,
Juliana Gobbe

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